A revolução das energias renováveis em Angola: romper com a dependência do petróleo

A recente mudança de Angola para os recursos renováveis é uma visão ousada e orientada para o futuro, marcando um ponto de viragem importante na trajetória económica da nação.

Esta reorientação estratégica, liderada pelo ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, representa um compromisso para com uma economia sustentável e resiliente, capaz de se adaptar aos desafios do século XXI.

Historicamente, Angola tem estado fortemente dependente do petróleo, tendo as receitas de exportação do produto em 2012 representado uns impressionantes 97% das receitas totais de exportação do Governo.

A volatilidade do mercado internacional do petróleo deixou Angola vulnerável a choques económicos globais. A sua economia, que sofreu seis anos consecutivos de recessão, foi particularmente afectada pela queda acentuada dos preços do petróleo, resultante da diminuição da procura de energia no contexto da pandemia da Covid-19.

O impacto foi tal que se previa que a dívida do país aumentasse para mais de 130% do PIB até ao final de 2020.

Um estudo recente da Carbon Tracker Initiative sublinhou ainda mais a necessidade de Angola diversificar a sua economia. O estudo concluiu que os países que dependem das receitas dos combustíveis fósseis podem sofrer uma queda média de 46% nas receitas do petróleo nos próximos 20 anos, devido a iniciativas destinadas a cumprir os objectivos de emissão do Acordo de Paris. Esta realidade económica serve de alerta para Angola e outras nações dependentes do petróleo.

No entanto, face a estes desafios, Angola está a demonstrar resiliência e visão. Nos últimos anos, a quota do petróleo no PIB do país começou a diminuir, passando de 33% em 2018 para 28,9% em 2021. Além disso, o Banco Mundial prevê que as actividades não petrolíferas, apoiadas pelo seu Projecto de Aceleração da Diversificação Económica e Criação de Emprego, no valor de 300 milhões de dólares, continuarão a crescer nos próximos anos.

O actual cabaz energético de Angola reflecte a sua aposta nas energias renováveis, com a energia hidroeléctrica a representar 68%, os combustíveis fósseis 31,3% e um híbrido de energia solar e combustíveis fósseis 0,7%. Mas há espaço para crescimento, particularmente na energia solar.

Na Cimeira do G7 na Alemanha, em Junho de 2022, o Presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou uma parceria entre Angola e empresas de desenvolvimento de projectos sediadas nos EUA para mobilizar 2 mil milhões de dólares para um projecto solar em Angola. Este ambicioso projecto inclui o desenvolvimento de mini-redes solares, kits de energia doméstica e energia solar para telecomunicações.

O potencial de energia solar em Angola é vasto. Com sol abundante e uma radiação solar horizontal anual global estimada em 1.370-2.100 kWh por metro quadrado por ano, o país poderia potencialmente aproveitar até 55 GW de capacidade solar.

A energia hidroeléctrica também é muito promissora para Angola. Apesar de apenas 20% da sua capacidade de produção, estimada em 18,2 GW, estar a ser utilizada, espera-se que a energia hidroeléctrica contribua para uma parte substancial do abastecimento energético do país.

O compromisso do Governo angolano de garantir que as energias renováveis representem 70% do cabaz energético do país até 2025, não só aproveitaria este potencial subutilizado, como também ajudaria a reduzir as emissões de carbono em até 14%, até ao ano 2030.

Sendo uma das economias emergentes de África, o sector das Energias Renováveis de Angola também serve de catalisador para a criação de emprego. A Agência Internacional de Energia estima que, até 2030, o sector das Energias Renováveis terá criado 25 milhões de empregos a nível mundial. À medida que Angola continua a investir nas energias renováveis, poderá beneficiar significativamente desta tendência.

No entanto, o desenvolvimento de uma força de trabalho local com as competências e conhecimentos necessários para apoiar o sector das Energias Renováveis continua a ser um desafio crítico.

O investimento na educação e na formação será crucial para colmatar estas lacunas de conhecimento e garantir que Angola possa beneficiar plenamente da sua revolução nas energias renováveis. Isto poderá levar à criação de empregos numa vasta gama de domínios, desde a Engenharia e Construção à Manutenção e Operações, promovendo o crescimento inclusivo e reduzindo a desigualdade de rendimentos.

A mudança de Angola para os recursos renováveis também tem o potencial de redefinir as suas relações económicas internacionais. Embora a China tenha sido um parceiro comercial importante, sobretudo no que respeita às exportações de petróleo, a transição para as energias renováveis poderá abrir novas oportunidades de parceria com os países ocidentais.

Em 2021, o enviado comercial do Reino Unido para Angola, Lawrence Robertson, falou sobre a forma como o Reino Unido apoiou a transição de Angola para uma economia verde e como esta poderá criar novas oportunidades para as empresas britânicas.

As recentes visitas do Presidente João Lourenço a França, Portugal e Itália, nos últimos meses, sublinham os laços crescentes de Angola com as nações europeias. Estas relações poderiam facilitar a transferência de tecnologias avançadas e de conhecimentos necessários para desenvolver o potencial de recursos renováveis de Angola.

O foco de Angola nos recursos renováveis posiciona-o de forma única em África. Uma vez que muitos países africanos continuam dependentes de uma gama restrita de exportações, a diversificação de Angola poderia tornar-se num modelo para o desenvolvimento económico sustentável na região.

A mudança de Angola para os recursos naturais renováveis representa um farol de esperança num cenário económico difícil. O compromisso do país com a sustentabilidade, a diversificação económica e a parceria global são pilares fundamentais de uma economia robusta e resistente e outras nações africanas deveriam começar a tomar notas.

A viagem que se avizinha está, sem dúvida, repleta de obstáculos, mas com planeamento estratégico e cooperação internacional, Angola está bem posicionada para navegar no seu caminho em direcção a um futuro próspero e sustentável.

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